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Didática é coisa séria

Professor (a), me conta, você já mencionou em algum momento da sua carreira essas frases? "Esses alunos não querem nada com nada"

"Não estudam e só tiram nota baixa"

"Tudo o que faço pra eles não está bom"

"Eles não aprendem"

E se eu te contar, que, essas frases eu também já utilizei, mas que, elas estão relacionadas intimiamente com nossas práticas? ou seja, com a forma como "ensinamos"? Pois é, essas frustações que nos deparamos ao final ou durante o percurso formativo dos nossos estudantes, estão relacionadas com as nossas práticas educacionais.

Já destaquei em outros momentos, que, os nossos estudantes aprendem de diferentes maneiras e cabe a nós, professores selecionarmos qual a forma mais adequada para o nosso público aprender. Essa seleção de conteúdo e a forma como ensinamos e que irá refletir na aprendizagem, está relacionado com a didática.

Para Castro (1991) apud Melo; Urbanetz (2012, p.15, grifo nosso) didática "significa arte ou técnica de ensinar". Refletindo em relação ao posicionamento dos autores, a didática vai além de passar um conteúdo, ela está relacionada com a condução do estudante ao conhecimento. Essa arte ou técnica de ensinar passa pelo que Chevallard chama de Transposição Didática".

Para o autor, essa transposição ocorre entre o saber sábio, o saber a ensinar e o saber ensinado. Ou seja, o saber sábio é o saber desenvolvida pelos cientistas. O saber a ensinar relaciona-se com o saber que está nos livros, almanaques, enfim, o saber traduzido dos cientistas para as universidades. Já o saber a ensinar é o saber que o professor "traduz" dos livros e passa de uma forma mais significativa aos seus estudantes.

Alves filho (2000) define o saber como um objeto que sofre transformações.

É utilizado o termo saber (savoir) para designar o objeto sujeito a transformações. Como elemento de análise do processo de transformação do saber, a transposição didática, estabelece a existência de três estatutos, patamares ou níveis para o saber: (a) o saber sábio (savoir savant); (b) saber a ensinar (savoir à enseigner) e (c) saber ensinado (savoir enseigné) (ALVES FILHO, 2OOO, p. 48)

Vale destacar, que, os professores possuem didáticas diferentes, ou seja, no momento de transpor didaticamente o que está nos livros e nos almanaques, o professor insere a sua postura, suas vivências, sua bagagem de conhecimento para realizar essa transposição didática sugerida por Chevallard (1998). Além da trajetória do professor, existe também uma organização que envolve a sociedade que o estudante está inserido, a postura da escola, dos supervisores e cordenadores escolares, da família e da comunidade em geral. Alves filho (2000, p. 49, grifo nosso) diz que

"O saber sábio é entendido como o produto do processo de construção do homem acerca dos fatos da natureza. É o resultado do trabalho do cientista ou intelectual relativo a uma forma de entendimento sobre a realidade".

O saber a ensinar, por sua vez

[...] é um produto organizado e hierarquizado em grau de dificuldade, resultante de um processo de total descontextualização e degradação do saber sábio. Enquanto o saber sábio apresenta-se ao público através das publicações científicas, o saber a ensinar faz-se por meio dos livros-textos e manuais de ensino". (ALVES FILHO, 2000, p. 49).

O saber a ensinar sofre influência política, seguindo diretrizes que perpassam os documentos norteadores do país, estado ou município em que o livro será publicado, por exemplo. É portanto, no saber ensinado que o professor irá reunir as conhecimentos científicos realizados o saber sábio, com os conhecimentos produzidos no saber a ensinar e realizará a transposição em saber ensinado, aquele que o estudante conseguirá assimilar e que concretizará o conhecimento.

No ambiente escolar, o saber a ensinar torna-se objeto de trabalho do professor quando ele, tomando como base o livro texto, prepara sua aula. Neste momento, cria-se um terceiro nicho epistemológico que, através de uma nova transposição didática sobre o saber a ensinar, transforma-o em saber ensinado. Este último é de extrema instabilidade, pois o ambiente escolar − com os alunos e seus pais, supervisores escolares, diretores ou responsáveis pelas instituições de ensino e o meio social em que a instituição está inserida − exerce fortes pressões sobre o professor, que acabam interferindo em suas ações desde o momento em que preparara sua aula até o lecioná-la de fato (ALVES FILHO, 2000, p. 49-50).

Na consepção de Veiga (2006) apud Melo; Urbanetz (2012, p. 106), existem quatro elementos no processo didátic, sendo eles:

[...] ensinar, aprender, pesquisa e avaliação. O primeiro elemento pertence, principalmente, à tarefa do professo. O segundo, aprender, é uma necessidade especialmente do aluno. A pesquisa é inerente ao processo, envolvendo a ação docente e discente. Por último, a avaliação do processo é necessida elementar da averiguação do seu sucesso ou fracasso, ads fragilidades e lições do processo educativo.

Podemos ainda destacar, que, a aprendizagem "[...] só acontece se houver da parte do educando uma atividade autônoma no sentido de que ele se mobilize para o aprendizado"Melo; Urbanetz (2012, p. 117).

Dessa forma, didática envolve o processo educativo e os sujeitos aluno e professor. No decorrer desse processo, os estudantes carregam suas vivências e o professor as suas. Se durante o percurso algum dos sujeitos ou ambos estiverem descontente com o processo, é importante o diálogo para ajustar o modo como o processo de ensino e de aprendizagem estão acontecendo.

Se analisarmos, após essa breve discussão, a transposição didática é necessária para a construção do conhecimento, mas a aprendizagem só acontece se o estudante está propício à aprender. Então, professor, esteja sempre aberto ao diálogo com seus supervisores, os estudantes e as famílias e, também sempre atento ao que as diretrizes educacionais apontam.

Por fim, didática está relacionada com o modo de ensinar, as estratégias, os métodos, as ações de ensino que serão necessárias para desenvolver o conhecimento durante a aprendizagem.

Referências

ALVES FILHO, J. P. Regras da transposição didática aplicadas ao laboratório didático. Caderno brasileiro de ensino de Física, v. 17, n. 2, p. 174-188, 2000. Disponível em: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/fisica/article/view/9006>. Acesso em: 10 jun. 2023.


CASTRO. A.D.de. A trajetória histórica da didática. In : SÃO PAULO. Secretaria do Estado da Educação Fundação para o Desenvolvimento da Educação. A diática e a Escola de 1º Grau. São Paulo : FDE, 1991. p. 15 -25 (série ideias, n.11)


CHEVALLARD, Yves. La transposición didáctica : del saber sábio al saber enseñido. AIQUE Grupo Editor : 1998.


MELO, Alessandro de; URBANETZ, Sandra Terezinha. Fundamentos de didática. 1. ed. Curitiba : InterSaberes, 2012.


VEIGA, I.P.A. Ensinar: uma atividade complexa e laboriosa. In:_____. (Org). Lições de didáticas. Campinas : Papirus, 2006.p. 13-33

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